sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Rumo à aula de Português

Estava um lindo dia de sol, bonito, radioso como o sol nascente (já sabem, o clichê do costume com que começam todas as histórias), delicioso como algo do género de um rissol, e Davide José decidira dar um passeio pelo meio do sumptuoso deserto. Uma atmosfera tremente e crepitante como as achas de uma fogueira reinava e deixava qualquer um ofegante, arfando por ar e sedento por água. Não tardaria muito para que José tivesse de travar a sua agradável caminhada pelo Inferno na Terra.
Decide então que deve tomar uma leve, mas oportuna pausa para um kitkat. Sentou-se na esplanada do café mais próximo, que curiosamente se chamava Miragem e pediu também um café que mais parecia água choca. A vontade dele era apresentar uma queixa ao empregado, mas assim que tentou chamá-lo reparou que por debaixo dele só havia areia, pó e claro... um pires que portava a conta do pesaroso café.
-Que estranho, de repente o café ficou um deserto. – foi a única constatação que saiu do nosso intrépido aviolentado, que acabara por ficar sem café, e sem cadeira para se sentar, já que tudo aquilo não passara de uma miragem.
Felizmente, o kit-kat era verdadeiro, mas estava fora de prazo.
Eis que José retoma a sua deambulação, ao estilo do “Eu” poético que habita os versos de Cesário Verde, tomando conta de todos os pormenores e sensações. A propósito de Cesário Verde, Davide José não caminhava sem destino – caminhava em direcção àquela, à única, à refulgente e magnânima, à aula de português.
O ar continuava a estalar com os penetrantes raios de sol uu-vê, o silêncio permanecia, e o único sinal de vida era a sombra que se movia malandra por detrás dos cactos, ao sabor da caminhada que o Astro Fulgurante, o Sol, realizava à medida que Apolo conduzia o seu carro divino (que já agora era sem dúvida um Renault Clio de alta cilindrada), como se de uma epifania se tratasse. Os ventos chiavam pouco ou digamos calavam-se. Os escorpiões escondiam-se devido à beleza de Davide José, fruto de um fenómeno qualquer.
-Que rico calor, hummm! Acho que vou tomar um banho ou apanhar um escaldão! Estou indeciso. Adoro escaldões, mas queimam um bocado! Com sorte, pode ser que apanhe um Melanoma de grau 4! - disse José, quebrando por momentos o vidro fosco do silêncio. - Mas afinal o que se faz aqui? Que seca...
Na busca de algo com que se entreter, começa a olhar em sua volta, vendo areia, areia e mais areia, ah, e caso não tenhas percebido à primeira... areia...
...e latas de conserva com atum lá dentro...
...ah, e caso interesse encontrou lá uma placa de pedra...
-Espera aí?!... uma placa de pedra?!... no meio do deserto?!... não será a Pedra de Rosetta?! Aquela que estava naquela pergunta de biologia em que nos perguntavam em que medida os meteoros podem constituir as Pedras de Rosetta do Sistema Solar? - indagou-se a si mesmo, recordando as sábias palavras de “Meloa”, o seu mentor.
Então, dirigiu-se à dita placa, e ajoelhou-se perante ela, começando a especular acerca da idade da pedra.
-Hmm, de origem sedimentar... raios, não podemos recorrer à datação radiométrica para descobrir a sua idade... Espera, o que é isto?
Foi assim que constatou que a rocha sedimentar tinha um fóssil de uma palhinha anil.
-Bem, assim sendo, esta rocha só pode ter cerca de 10 dias... interessante. Ah espera, há mais, está lá algo escrito.
Foi então que a pedra, anteriormente um mistério cerrado, um segredo bem guardado, um destino mal traçado, começou a falar, não literalmente, mas quase literalmente. E então, tudo foi revelado. Com uma espécie de alegoria unida a um festival de palavras e fonemas, o pergaminho rochoso contou a sua história:
"Era uma vez, uma rapariga muito mas muito…”
José Davide não pode conter-se, e vieram-lhe as lágrimas ao olhos, talvez porque acabara de descobrir a derradeira verdade ao fim de tantos anos de busca insaciável...
...ou porque entrou-lhe um cisco no olho.
-Bolas, não vejo nada! - e assim se confirmou a segunda hipótese.
Claro, agora, como potente e amigável Narrador que eu sou, vem a melhor parte. A parte em que acontece algo de fenomenal e absolutamente fantástico ao José Davide. Não, não encontrou um cheque no valor de 1278384 euros perdido nas areias polvorosas; não, não começaram a chover galinhas mas sim galos, e não, não foi abraçado por uma árvore cor-de-rosa mas antes por uma árvore listada que sorria alegremente e acenava a quem estava de passagem.

-Hei! Esqueci-me de ler uma coisa no final desta pedra... vejamos... "José Davide, sim, tu, ó nabo! Se tiveres a ler isto, vais “mamar” com um meteoro em cima da cabeça! - assinado: "EU" - lia ele, como se nada se tratasse – Espera, EU? Quem poderá ser?
E do meio do nada, do espaço sideral, surgiu o inesperado: um grande meteoro com 1Km de diâmetro consegue atravessar a fricção atmosférica e resistir a qualquer tipo de erosão, deixando nada a não ser poeira e pó inflamado para trás. Este vinha convenientemente em rota de colisão precisa com Davide, e, num acto de provocação, tinha algo escrito em letras bem gordas e salientes na sua superfície dura. "LOL"

No final disto tudo, devem perguntar-se, e então? O que se sucedeu de especial com José? Levou com um meteoro na cabeça, e depois? Tem piada?
Nem por isso.
Mas a vós, interessados, cabe-vos saber que foi isto tudo que vocês leram que ele escreveu para justificar o seu atraso à aula de português. Claro está, a professora viu-se obrigada a aceitar a desculpa de ele ter sido atingido por um meteoro, embora permanecesse céptica face à realidade de todo o sucedido. Mesmo assim, podemos tirar duas conclusões sobre esta história:
Da próxima vez que chegares atrasado a uma aula, qualquer disciplina que seja, sê MUITO criativo, far-te-á bem mais credível. Para além do mais, se for uma aula de artes, ainda és capaz de ganhar uns pontinhos extra pela tua imaginação fértil!
Os meteoros como agressores intergalácticos EXISTEM, atacando principalmente indivíduos compreendidos na faixa etária que se estende dos 6 aos 18 anos, com alguma incidência também nos grupos mais idosos. Sendo esta uma realidade bruta, devemos todos reunir esforços para travar esta ameaça e conceber um plano que vise eliminar este tipo de agressão recorrendo apenas a escassos recursos – ou seja, nada de lasers, canhões de plasma e algo do género – usem a imaginação! Um saleiro, uma revista de tuning, um copo de iogurte – são todos objectos que podem ser utilizados para travar esta ameaça sem recorrer a meios violentos. Afinal de contas, o peace & love não é só para os anos 70, right, man?

E se usarem a imaginação, irão poder imaginar que afinal, toda esta história teve piada e não foi uma mera coincidência, mas sim, uma lição de vida: Para combater a violência não precisamos de mais violência. Só precisamos de um pouco de imaginação e criatividade – e é isso que pretendemos provar.

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